Concentração Do Crédito No Agronegócio E Perspectivas Para O Setor No Brasil

1. INTRODUÇÃO

A análise do crédito agrícola é relevante para o entendimento do histórico do financiamento agrícola no Brasil, a concentração dos agentes nesse setor e as perspectivas para o setor. Foi-se o tempo em que o produtor rural precisava menos de recursos financeiros e mais da sua força de trabalho e da ajuda da natureza para ter bons resultados na colheita. A modernização da agricultura trouxe a necessidade de altos investimentos em maquinários, implementos e gestão profissional.

Até os anos 1980, o crédito para financiar essas melhorias vinha em grande parte do Estado, seja diretamente, oferecendo crédito rural, ou indiretamente provendo a infraestrutura para o avanço das fronteiras agrícolas e viabilizando a regulação da oferta e demanda de grãos por meio de estoques e armazéns públicos. Marco importante desse processo foi a criação, em 1965, do Sistema Nacional de Crédito Rural, considerado o principal fator de modernização da agricultura.

A maior parte dos recursos do crédito rural vinha do Tesouro Nacional, mas em 1986 o Brasil enfrentava uma grave crise econômica que culminaria com o lançamento do plano cruzado, para tentar driblar a inflação. Com isso, o subsídio foi substituído pela chamada “poupança rural”, formada por fundos constitucionais. Em 1994 o Banco do Brasil criou outro mecanismo de crédito, a Cédula do Produtor Rural (CPR), que tinha por objetivo regulamentar e facilitar a participação das empresas de insumos, agroindústrias e tradings no fornecimento de crédito aos produtores agrícolas, para assegurar preços futuros: a chamada venda antecipada, ou seja, antes do plantio, o agricultor negocia a safra junto a essas empresas, de forma a receber antecipadamente recursos para o custeio da produção. Embora essa não fosse então a principal ferramenta de financiamento agrícola, há décadas era uma prática corrente entre várias empresas privadas.